Os rostos do presidente

Por Mariana Moreira – No rosto as marcas de uma vida palmilhada em tantos anos de fartura e escassez. Fartura de aperreios por uma existência marcada por muitas ausências. Ausências da chuva para fertilizar e germinar solos e sementes. Ausências de muitos parentes e amigos que migraram para outras terras deixando a herança da saudade e da tristeza de famílias repartidas, vivências estilhaçadas. Escassez de vidas abortadas em tantos anos de secas e temores de fome e medo. Escassez de afetos e amizades roubados por tantas partidas sem retorno.
Os cabelos tingidos pelo cinza dos anos emolduram uma face talhada de rugas e expressões do sofrimento que se tornou parceiro seu e de tantos outros que, com ela, dividem os espaços de tantos sertões.
Sentada cuidadosamente em uma cadeira da primeira fila, a mulher, cujo corpo e expressão revelam uma avançada idade, concentra o atento olhar na figura do presidente que, no palco fala a multidão. Cada palavra do Chefe de Estado provoca um turbilhão de expressões no rosto daquela mulher. Expressões que, em não raros momentos, se manifestam em um discreto, mas verdadeiro sorriso.
E a mulher, ao ouvir do presidente que as águas do Velho Chico, movimentada por canais e tuneis e se espraiando por longínquos lugares dos sertões nordestinos, está chegando não como uma faraônica obra de um governante, mas como resposta as necessidades de tantos que, como ele, sabem e sentem a dor da fome, o medo da seca, o pânico do choro de uma criança que revela esquelética barriga faminta. As águas do Velho Chico chegando à Cachoeira dos Índios, adianta o presidente, traduzem o borbulhar de seu compromisso em entender que governar deve sempre ser uma manifestação de reciprocidade entre que tem o poder para executar e quais execuções serão feitas para levar bem estar, tranquilidade e serviços ao povo.
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Falando de sua experiência como retirante nordestino que viveu o cotidiano da fome, da tristeza, da migração forçada, do olhar atravessado que lhe era dirigido por tantos que lhe trataram como forasteiro e “beradeiro do pé rachado” o rosto do presidente se reflete no rosto da senhora, estabelecendo uma verdadeira sintonia de sentimentos e compreensões sobre as gentes tantas deste país.
Gentes representadas nas centenas que se avolumaram na solenidade conduzida pelo presidente Lula em Cachoeira dos Índios, ao inaugurar mais uma etapa do Projeto de Transposição do São Francisco e que, em rostos e sentimentos, alimentaram e alimentam a certeza de que governar deve ser uma fascinante aventura de produção de humanidades e de sonhos possíveis na água que produz o roçado de milho e feijão.
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